Era uma vez uma mulher cansada. Passava os seus dias vistoriando a própria vida e a de todos que habitavam sobre os seus domínios. Perfeccionista, incomodava-lhe um tapete torto, uma gaveta mal fechada, resquícios de pão ainda que imperceptíveis a outros olhos que não os seus. Quanto a sua própria imagem não prestava muita atenção. Um eterno vinco na testa. os cabelos eternamente por retocar. Convivia intimamente com um forte rancor que lhe fazia arder o estômago e ainda mais ácidas se tornavam suas palavras e observações. E quando a noite chegava ela vestia a mais confortável das camisolas e despedia-se do marido com um cortante e irreversível até amanhã. E todos tinham que seguir o ritmo que ela impunha e suas prioridades tinham que ser as de todos para que a vida fluisse sem dissabores. Como se cansava aquela mulher! Sinto um peso sobre os ombros só em descrever o seu cansaço. Acordava com a vassoura nas mãos e passava os seus dias em meio a sabões, alvejantes, limpa vidros. Na hora do banho das crianças, suas mãos pesadas percorriam-lhes os corpos com energia, como se fossem constantemente preparadas para uma minuciosa vistoria. Enquanto isso a vida lhe escapava, ia-se embora como fumaça de insenso. Ela foi murchando a olhos vistos e aos cinquenta e poucos anos se foi completamente. Vinte anos se passaram e sua casa, de tão limpa, nunca mais precisou ser arrumada. Nunca mais houve poeira em seus móveis ou fogão engordurado. E assim permanece até hoje, estéril como as mentes de seus familiares totalmente desprovidas de doces lembranças.
Olívia Comparato
Delícia de textos, Olívia ( este e o da bailarina). Seja bem vinda à blogosfera. Vou te seguir, tá?
ResponderExcluirMentes tão limpas e estéris como a casa com a qual ela tanto se preocupava. Limpa até de lembranças.
ResponderExcluirMuito bom o texto!
Bem vinda a esse reduto de bits e bytes transmutados em literatura :) Também sou novo aqui e pretendo publicar prosa e poesia, aos poucos.
Fique à vontade de ler meus textos no blog e comentar, se quiser.
Abraços!
Olá Olívia! Fiquei muito feliz com a tua visita, teu comentário e, principalmente, por teres te tornado seguidora do nosso humilde espaço. Isso somente aumenta a minha responsabilidade de melhorar tudo aquilo que crio e escrevo. espero que voltes mais vezes, pois será sempre um prazer renovado. Eu, particularmente, aqui voltarei mais vezes, pois, além de ter gostado dos teus dois primeiros textos, tomei a liberdade de me tornar teu seguidor, para que eu possa aprender um pouco mais, isso até quando permitires, é claro.
ResponderExcluirO excesso de limpeza da pobre mulher desagradou a todos de tal forma, que quando se foi, não deixou o mńimo de lembranças entre os seus entes queridos.
Beijos e ótima semana pra ti e para os teus.
Furtado.
Minha amiga, obrigado pelo carinho de sua vista ao Livro dos dias,,,e pelas palavras,,,volte sempre que desejar,,,uma belissima semana pra ti,,,prazer imenso em conhecer,,,grande beijo de boa semana.
ResponderExcluirUma historia que acontece a muitas mulhers...uma mulher que não vive...apenas sobrevive...
ResponderExcluirBeijo d'anjo
Uma excelente terça feira pra ti querida amiga...beijos.
ResponderExcluirOlá minha querida amiga,
ResponderExcluirObrigado pelo carinho por lá deixado em meu recanto num instante em que me encontro naqueles dias por tantas amarguras que vamos driblando nesta travessia.
O texto tbém nos leva a pensar, refletir, induzindo nos deixando atentos as posspiveis mudanças que nos são necesária.
"A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou". (Karl Kraus)
"A poesia é o eco da melodia no universo do coração dos humanos." (Rabindranath Tagore)
Obrigada sempre pelo seu
carinho...
Perdoe-me o silêncio...
Bjs
Livinha
Estimada Amiga de Excelência:
ResponderExcluirQuem nasce genial será sempre genial. VOCÊ!
Adorei o seu blogue.
É um encanto imenso.
Fascinam as suas histórias de vida.
Parabéns.
Abraço amigo de respeito, estima e consideração ao seu talento num blogue de sonho e e ouro puro.
Sempre a admirá-la
pena
Bem-Haja, pela ternura no meu blogue.
O seu maravilha e deslumbra.
Fabuloso e Perfeito.
A sua pureza é de fascinar.
MUITO OBRIGADO pela honra da sua preciosa amizade.
Adorei.
Há tantas mulheres assim, que perdem a vida para se não perderem a si, aos valores e filosofias que lhes foram incutindo como válidas e essenciais...
ResponderExcluirGostei muito da construção textual.
Obrigada!
L.B.
PREOCUPAÇÃO EXAGERADA COM A CASA, ROTINA, SEM PERCEBER O GRANDE RESTO...lINDA REFLEXÃO ESSA.oBRIGADO PELA VISITA!BEIJOS,CHICA
ResponderExcluirAmei... me lembrou alguém que conheco!!!! Que maravilhoso texto! Me "prendeu"!!!!
ResponderExcluirÉ assim a vida!
ResponderExcluirO seu texto está bem escrito.
Saudações poéticas
"Sinto um peso sobre os ombros só em descrever o seu cansaço."
ResponderExcluirAdorei essa intervenção pessoal, Olívia.
Dá um estilo bem legal à crônica super bem escrita.
bj
Rossana
Esta mulher cansada...CANSA!
ResponderExcluirInfelizmente, ainda abundam por aí...As suas casas tornaram-se museus...nada está fora do sítio...apenas a sua vida!
Um texto belissimo...mensagem para quem caminhou ou caminha, sem deixar vestígios...nem uma grama de pó!
Fiquei tua seguidora...sem dúvida!!
Beijo e feliz semana.
Graça
Esta mulher tinha na verdade, dificuldade de receber amor e dar amor. Belo texto, repleto de movimentos. Beijos.
ResponderExcluirTexto belo , forte e imensamente triste ...
ResponderExcluirMe remeteu à coisas que vi e vivi .
BjO.
Intenso! Sensibilidade à flor da pele! Sigo-a, para saber o caminho de volta!
ResponderExcluirBjs*
Tenho certeza que encontrarei boas histórias por aqui, como esta que ,lamentavelmente, muitas mulhees vivem.
ResponderExcluirSeja bem vinda
Vou te seguir e voltar, certamente.
Bjs
Tão triste, mas ainda existem mulheres assim.
ResponderExcluirSO-brevida, que jamais será vida!
Olivia, vim deixar um abraço e retribuir seu carinho.
És muito bem vinda!
Adorei seu espaço, voltarei!!!!
Olivia,
ResponderExcluirMuito bom.
Retrata mulheres de nosso cotidiano, incapazes de um carinho, um afeto, e sublimam seu querer na neurose do perfeccionismo da limpeza e arrumação.
Quantas há por ai.
Um belo retrato do cotidiano.
Voltarei para acompanhar suas historias.
bjo
Texto muito real. Retrata a história de muitas pessoas, que de tão tristes, entregam sua energia a guardar coisas, e acabam morrendo sem desfrutar a vida. Muito bom.
ResponderExcluirQue escrita maravilhosa *-*
ResponderExcluirAinda bem que hoje em dia não se vê tantas donas-de-casa como antigamente, cuja vida prendia-se aos cômodos de sua casa, vivendo por arrumar e não por viver em si.
muito bom mesmo, beijos (:
Você escreve magicamente bem... estou muito feliz de ter você por perto, você ganhou um novo leitor.
ResponderExcluirBeijo!
Obrigada pela visita ,fica á vontade no meu cantinho ,que ótimas palavras :)
ResponderExcluirUm conto para se pensar: a vida atrelada às labutas do dia a dia, no final, dá em cansaço, e o corpo se esvazia e fana. Porque o que é pedra vira pó.
ResponderExcluirMuito bom, Olívia.
PRAZERRRRRRRRRRRRRRRRR
ResponderExcluir__OLívia!!!
Que bom conhecer pessoas amante
dos Escritos.
BEM VINDA!!!
Vou espiar teu Recanto........
VOLTAREI!!
bjs Querida!!!
______________*
Oi Olívia! Tudo bem?
ResponderExcluirÓtimo texto! E quantas pessoas não "perdem" suas vidas com tudo que não é importante, seja em arrumação do lar, seja focando demasiadamente no trabalho.
O foco deve ser no amor à família e nos amigos. Primeiro a nossa melhora pessoal e espiritual, depois o resto.
Muito obrigado pelas palavras em meu blog, fiquei muito feliz em lê-las.
Grande abraço a você!
Nossa, suas escritas são perfeitas, muito obrigada por ter visitado o meu espaço. Já virei visita frequente no seu. Parabéns pelo lindo Blog, grande beijo ;*
ResponderExcluirO retrato de tantas mulheres, e ainda existem mulheres assim.
ResponderExcluirBeijooO'
E pior é que isso é muito comum...até demais para meu gosto!
ResponderExcluirMuito bem descrito!
[]s
Oi, Olívia...
ResponderExcluirMuuito bom o seu blog, suas idéias e seu bom gosto. Parabéns pelo trabalho.
Estou te seguindo.
Beijos no coração,
EDU (http://edurjedu.blogspot.com)
Quais lembranças desta pobre mulher, permitiu a morte levar com ela? Quem sabe pudesse deixar para trás o rancor que tanto cultivou, para levar o doce no colo e, sabe-se lá onde, re-arrumar. Não a sua casa, mas a sua vida.
ResponderExcluirA realidade de muitas saltando das linhas e entrelinhas do seu texto, Olívia. O tempo não perdoa. Segue gerundiando; passando...
ResponderExcluirMuito obrigada pela visita e comentario. Adorei!
Bjs, Olívia. E inté!
Que bom, saber que encontro mais alguém que consome a arte de "brincar" com as palavras proporcionando momentos de leitura que prendem quem espera por mais.
ResponderExcluirDelicioso post
bj...nho
As memórias precisam de mofo e pó.
ResponderExcluirTem vidas e vidas...
ResponderExcluirMuito bem definido.
Oieeeeeeeeeee
ResponderExcluir]Um final de semana maravilhoso pra você!
Beijos
Olá, Olívia.
ResponderExcluirPassei por aqui e gostei, principalmente da crônica. Já estou seguindo você. Deixo um convite para os meus olhares.
Beijinhos
Que texto! Uma lição para nossas vidas.
ResponderExcluirBeijos.
Oi Olivia.. vim conhecer o seu blog e já amei os seus textos... adorei... virei sempre aqui para alegrar meus olhos e minha alma.. bjs vania
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